segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

carta I




E esse sentimento de culpa, que te passeia de um lado para o outro?!
Que te deixa acordado a pensar num outro caminho que não tomaste
Aquele ou o outro, dos quais nunca conhecerás o destino
Seria provavelmente melhor, não seria?
O caminho tortuoso e desajeitado que escolheste só te levou até aí.
Precisamente até meio caminho de lado nenhum.
Acordas todos os dias com a mesma sensação de insatisfação
E todos os dias te deitas sem mexer uma única palha para muda tal sentimento

Acorda caro amigo, acorda e mostra que ainda aí estás
Mostra a toda a essa gente mesquinha que o céu e o inferno são cá na terra
A vida tira bens preciosos, mas retribui com bens maiores
Pode ser tarde para escolher outro caminho
Mas nunca é tarde para mudar de rumo

A vida tem duas caras
A opinião dos outros e a opinião que tens de ti.
Nunca tentes mudar o mundo
Muda a tua maneira de estar nele
Perde tempo a pensar
Questiona-te a cada passo.
Encontra em ti todas as respostas e duvida delas…


Porque quando pensamos saber todas as respostas…
Vem a vida…

E muda-nos as perguntas.


Ernesto Soares (in "cartas sem-abrigo")(Baião 2008)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Um raio de sol




Um raio de sol que acordou
Um raio de sol que levantou
Um raio de sol que vestiu
Um raio de sol que acompanhou

Um raio de sol que riu
Um raio de sol que ouviu
Um raio de sol que falou
Um raio de sol que sentiu

Um raio de sol que sentou
Um raio de sol que tocou
Um raio de sol que sorriu
Um raio de sol que saiu

Filipe Quintã (in “há muito que um domingo não brilhava assim”) (Porto 2008)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Tudo chega ao fim



Tudo parece uma sombra daquilo que foi outrora

É tudo tão sem sabor.
Tão desinteressante.
Tão sem brilho.

A brisa que trazia o sabor da maresia
hoje traz apenas o som do bater incessante das ondas
nesta deserta praia.
Onde os pequenos grãos banhados de sal
perderam a consistência que os mantinha unidos.


desmoronou-se o pequeno castelo de areia
e com ele caiu o sonho
de quem pouco dorme.

Filipe Quintã (Ermesinde 2008)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Lugar da Tua Ausência II



os olhos mostram a cor ao mundo
a boca esboça o desalento de uma vida
no ouvido sente-se o silencio duma noite
e na pele o toque suave da tua ausência

os meus olhos vêm nos teus
um novo outono
novos dias castanhos
sem sorrisos

são dias curtos e as noites são frias
são noites longas e mal dormidas

são tempos mortos
que me matam


'porque o Homem morre
quando o seu sorriso morre

Filipe Quintã (Ermesinde 2008)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Memórias da minha terra




fechei os olhos e lá estava
na margem do meu douro

margem esbelta
onde tudo é verde e terra
onde encho o olhar de azul
e me perco na melodia
da conversa livre e harmoniosa
dos pequenos seres

margem fértil
soalheira
de pronuncia única e acentuada
do homem que enche de suor
a terra que o sustenta

margem Santa
da terra que é a Cruz
do homem que ama o Douro

Filipe Quintã (Santa Cruz do Douro 2008)

domingo, 1 de junho de 2008

Depois do caminho


Dias chuva, dias de sol, dias de sol e chuva
calor e frio
Mas que tempo este!
nos três últimos dias estive sentado perto da janela.

A pequena janela,
da pequena casa,
do pequeno prédio,
no pequeno bairro.

Engraçadas as pessoas e as suas lamurias.
Ou é porque está um frio capaz de gelar as lágrimas do vento.
Ou porque está calor capaz de secar a boca e encharcar o corpo.

mas a chuva...
O problema é a chuva, dizem eles.

A chuva que os molha ate aos ossos
e que custa a secar no corpo.

A chuva do calçado que nunca seca.
A pele enrugada dos dedos...

Maldita chuva que não acaba, dizem eles


Chuva...
Chuva que para mim é apenas chuva
Pequenas gotas que estiveram juntas
Gotas que se separam
e depois de um longo caminho
se voltam a juntar.

Já desejei ser uma dessas gotas
desejei o mesmo destino.
Depois de um longo caminho
voltar para junto das outras.

Filipe Quintã (Ermesinde 2008)

domingo, 25 de maio de 2008

Lugar da Tua Ausência I



Sentei me calmamente na velha cadeira e olhei o mar.
Mas dessa vez sem o mesmo sentimento de impotência,
e sem o ódio que outrora me mantinha afastado.

As velhas memorias tomaram me o pensamento.
E dei por mim em recordações longínquas,
entre sorrisos, olhos castanhos e cabelos loiros.

Hummmm!
Atlântico...
Tu que tanto me deste e tiraste por vontade própria.
Atlântico...
Tanto juntas como separas sem que te peçam


Mas nesse dia não!
Nesse dia deixei o ódio e a revolta em casa.
Fui mais forte que eu próprio
e que todos os outros eus que deixei para trás.
Nesse dia olhei-o com um discreto e confiante sorriso.
Eu soube esperar!
Esperei e desesperei,
mas sobretudo soube esperar.
O tempo passou e sempre ali estive,
tal como a velha cadeira que la permaneceu
ano após ano...


Filipe Quintã (Ermesinde/Ericeira 2008)

quinta-feira, 22 de maio de 2008




Sonho: e o que te fazia doer?
Filipe Quintã: a ausencia da presença do sentimento.
Sonho: então quer dizer que já não existe ausência...
e que o sentimento já existe!
Filipe Quintã: não.
O que existe é a indiferença perante a ausência.

Acordo e volto a sentir me eu.
No estado em que começo a achar normal.

sinto me como um rissol frito em óleo demasiado quente.
quente por fora
e frio
por dentro.

Filipe Quintã (Ermesinde/Viseu 2008)

sábado, 3 de maio de 2008

Manhã pesada e cambaleante
Passos curtos e arrastados
Porta entreaberta
Paredes duras
Mãos seguras.
E aí estás tu…
Onde te toquei pela ultima vez
Onde te deixei fora de ti
Onde te possuí
Húmida… deslumbrante.

Tu que me espezinhas,
E fazes tentar mais que as minhas capacidades permitem.
Tu que me fazes louco desinibido.
Tu que indirectamente me empurras ao chão e me acompanhas
Tu que nem desdenhas…

Mas quem és tu?
Quem és tu que sem a tua essência
Te tornas simples e vulgar?
Quem és tu que te tornas comum a todas as outras?
Essas outras que caem em bocas que não a minha.
Que se deitam nas de homens de todos os tipos e formas
Sem regras nem normas.

O que interessa é a essência.
Usada…
Possuída por uma vez
Ou aos poucos.
Por loucos e outros.
Sim…
És tu.
Pertence daqueles que te sabem levar.
Aos quais pregas partidas
Aos muitos que deixas de rastos.
Serei eu um dos loucos?
Serei eu a consumir-te
Ou tu a consumir me aos poucos?
És de todos e não és de ninguém.
Não tens vontade própria
mas é feita a tua vontade.
És de quem te compra.
És escrava
Não és senhora de ti

E ainda assim és “libre”

CUBA



Filipe Quintã in “escondido no fundo do copo” (Baião 2006)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

noites


outra noite em branco.
apenas mais uma como tantas outras.
noites de espaços vazios
com minutos e horas
de pensamentos lúcidos.
onde a saudade faz questão
de se fazer presente.

saudade, saudade!
saudade das noites quentes no pico do inverno
saudade do som, do tom,
e da sensação harmoniosa
das madrugadas agitadas
antes de adormecer.

Filipe Quintã (Porto 2008)

terça-feira, 29 de abril de 2008

Momento



Momento.
foste um Momento.
foste dia e noite
foste bom tempo.
tudo num Momento.

Momento.
foste num momento.
foste mais.
foste M de melhor
foste M de Momento.

Momento.
todo este tempo.
tanto passou
e não passou...


de um momento.


Filipe Quintã (Ermesinde) 2008

cansado



hoje sinto-me cansado.
não pelo facto de serem já 4:59
nem pelo esforço físico

hoje sinto-me cansado.
não sei se é tarde para estar acordado
ou se é cedo demais para já estar acordado

hoje sinto-me cansado.
cansado de não saber o motivo do cansaço

cansado de sentir as pálpebras pesadas
cansado de dormir
cansado de acordar cansado

hoje sinto me cansado.
cansado do cansaço.


Filipe Quintã (Porto 2008)