segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

inculpado



Vem...
vem acusar-me de todos os erros
não me acuses apenas dos que eu cometi
quero que me acuses de todos
assim haverá apenas um culpado
uma única pessoa a carregar um único fardo

vem...
vem dizer-me que te enganei vezes sem conta
diz-me ao ouvido
baixinho
como se estivesses a falar só para mim

podes vir...
terei prazer em receber te minha querida
escutarei todas as tuas reclamações
mesmo não tendo tu fundamentos para as fazer

vem...
aconchega-te nos meus braços
mistura-te comigo
esquece o que está para lá de mim
perde-te no desejo
olha-me nos olhos
e diz ao mundo quanto ódio me tens

podes vir...
diz em voz alta que sou desprezível
que me escondo no meu eu
e que sou uma reles imitação de mim próprio

vem...
vem errar
erra tanto ou mais que eu.
Não tenhas medo
afinal de contas
temos o culpado do costume

também gosto de ti

cabra


Jorge Da Silva (in “costas largas”) (Porto 2009)